Falemos então de um vampiro à moda antiga, o maior de todos:
o Conde Drácula. O personagem, criado por Bram Stoker, é inspirado em uma
pessoa real: Vlad III, príncipe da Valáquia, região na atual Romênia situada
entre o rio Danúbio e os montes Cárpatos. Conhecido pela alcunha de Vlad III, o
Empalador, ele governou a região em 1448, de 1456 a 1462 e em 1476. Como seu
sinistro título sinaliza, Vlad era famoso pela crueldade contra seus inimigos.
Vlad nasceu em 1431 na Transilvânia, outra região da atual
Romênia, numa época em que seu pai, Vlad II - ou Vlad Dracul -, tentava
ascender ao trono local. Vlad III, o Drácula (que significa "filho de
Dracul"), chegou ao trono em 1448. Seu primeiro reinado, contudo, duraria
apenas dois meses, já que fora exilado por apoiar os turcos em sua expansão
pela Europa.
EXPANSÃO TURCA
Nessa época, o Império Otomano estava em evidência,
expandindo-se rumo à Europa e ao Oriente Médio. "Com a fragmentação do
Império Romano do Oriente após a queda de Constantinopla, a região em que se
situava a Romênia era presa fácil para o expansionismo turco", explica
Lucas Kooama, professor de história do cursinho Anglo. É um novo caso do embate
entre o Islã e o cristianismo, como visto, por exemplo, durante as cruzadas
entre os séculos XI e XIII.
A ausência de um poder centralizado na Europa facilitou a
expansão turca e sua constante fixação como um império gigante, que durou por
cerca de 500 anos. "O Império Otomano era unido pela religião e era muito
poderoso. Sua expansão teve sucesso em diversos aspectos, tanto é que ele durou
até o fim da Primeira Guerra Mundial", explica Lucas. Além das invasões, a
ascensão dos otomanos teve como consequência a estrangulação das rotas de
comércio entre Oriente e Ocidente, resultando, anos depois, nas Grandes
Navegações.
Vlad III retornou à Valáquia em 1456, ficando até 1462. E é
nesse período que a sua fama "vampiresca" se espalhou, começando com
o fato de que, quando retornou à região, ele era muito parecido com o seu pai.
Graças à imaginação bastante fértil daqueles que viveram na Idade Média, a
população se confundiu, achando que Vlad II teria ressuscitado e, criando
assim, a lenda da imortalidade de Vlad III, característica primordial de
qualquer vampiro que se preze.
A crueldade de Drácula e a excentricidade de seus hábitos
alimentaram várias lendas. Seu castelo ficava em uma região afastada, entre
montanhas, alimentando os boatos de mal-assombrado. Os turcos, em sua expansão
rumo à Europa, também foram vitimados pela crueldade de Vlad III, que tinha
como hábito ter suas refeições entre as estacas que continham suas vítimas
empaladas. Daí a lenda de que o Conde Drácula se alimentava de sangue humano.
Empalar era sua diversão e o método servia para punir
inimigos e súditos menos exemplares. Mas suas formas de punição não se resumiam
às estacas. Certa vez, mensageiros do sultão Maomé II sentiram na pele a
criatividade de Vlad III. Ao se recusarem a tirar seus turbantes na frente do
regente da Valáquia, os dois tiveram o adereço pregado às suas cabeças como
castigo.
Vlad III acabou morto pelos turcos em 1476. Sua cabeça ficou
exposta em Constantinopla, na ponta de uma estaca. O seu corpo foi enterrado em
Snagov, uma ilha-monastério localizada nos arredores de de Bucareste, capital
da Romênia. Séculos depois, em 1931, arqueólogos escavaram o túmulo e foram
surpreendidos ao não encontrar nenhuma ossada humana, apenas de animais. Não é
à toa que Vlad III, O Empalador, se tornou o símbolo dos vampiros.