Licantropia clínica é uma rara síndrome psiquiátrica na qual a pessoa afetada sofre a ilusão de poder se transformar, ou de fato ter se transformado, em um animal, ou que tal pessoa é, de alguma forma, um animal.1 A palavra é derivada da condição mitológica da Licantropia, uma aflição sobrenatural na qual as pessoas se transformam fisicamente em lobisomens.
A
licantropia clínica é uma condição rara, e frequentemente considerada como uma
expressão idiossincrática de um episódio psicótico causado por outra condição
como esquizofrenia, distúrbio bipolar ou depressão clínica
Os indivíduos afetados relatam e realmente acreditam que se transformaram em ou que estão em processo de se transformação em outro animal.Já foi relacionada com as alterações de estado da mente que acompanham a psicose (o estado mental distorcedor da realidade que, tipicamente, envolve ilusões e alucinações), sendo que a transformação aparentemente só ocorre na mente e comportamento da pessoa afligida.
A licantropia poderia ser reconhecida:
- Em um momento de lucidez, ou em retrospectiva, um paciente relata que algumas vezes se sente ou se sentiu como um animal.
- Um paciente se comporta de uma maneira que se assemelha ao comportamento de um animal, por exemplo, gritando, rosnando ou rastejando.
De
acordo com esses critérios, ou a crença ilusória na transformação atual ou
passada, ou o comportamento que sugere que a pessoa se crê transformada, é
considerado evidência de licantropia clínica. Parece também que a licantropia
não é específica para a experiência da transformação homem-lobo. Uma grande
variedade de criaturas foi descrita como parte da experiência de transformação.
Uma revisão da literatura médica do início de 2004 relaciona mais de trinta
casos publicados de licantropia, sendo que apenas a minoria deles tem lobos ou
cães por tema.
Um estudo de caso datado de 1989 descreveu como um indivíduo
relatou uma transformação em série, experimentando uma mudança de humano para
cão, cavalo, e então, finalmente, gato, antes de retornar à realidade da
existência humana depois do tratamento. Há ainda casos de pessoas que
experimentaram transformação em um animal descrito apenas como “inespecífico”.
Acredita-se que as contribuições culturais influenciam
fortemente o conteúdo das psicoses e de experiências semelhantes, e nós
dispomos de um grande repertório cultural no que diz respeito à transformação
de homem em animais, dado que muitas sociedades incluíram esse conceito em
mitos, histórias ou rituais. Já houve casos de crianças selvagens aparentemente
criadas por animais depois de perderem os pais. O psiquiatra Lucien Malson
coletou mais de cinqüenta casos assim alegados no seu importante livro “Wolf
Children and the Problem of Human Nature”. Mais casos já foram relatados desde
a sua publicação, em 1964, sugerindo que algumas crenças na licantropia podem
se originar a partir de observações de relações maternais incomuns entre
humanos e animais.
Pode-se argumentar que os mitos de licantropia sobrenatural
se originam de pessoas relatando experiências daquilo que, hoje, seria
classificado como psicose. Na verdade, a interação entre a experiência humana e
a cultura é difícil (e talvez impossível) de se separar, e no caso da
licantropia não é diferente. Enquanto que a tendência principal da psiquiatria
assume que alguém que se crê um animal é mentalmente enfermo, alguém que
deliberadamente tenta conseguir isso com o uso de drogas psicoativas e rituais
é considerado um xamã em muitas sociedades mundo a fora.
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